A performance do iPhone 6 em nossos benchmarks para a realização de sua análise foi surpreendente. Tanto a versão normal como a Plus conseguiu bater com tranquilidade concorrentes bem mais robustos. Enquanto o Moto Maxx e o G3 podem tentar se justificar por ter que renderizar telas de resoluções muito melhores, o Xperia Z3 Compact, por exemplo, não teria essa desculpa. É por isso que a vitória do iPhone se deve muito mais à grande compatibilidade entre hardware e software proprietários do que à resolução de sua tela, como explicaremos neste artigo.
O Snapdragon 801 presente no Xperia Z3 Compact conta com quatro núcleos e um clock de 2,5GHz para alimentar uma tela LED IPS com 720 x 1280 de resolução. O A8 dentro do iPhone 6 conta com apenas dois núcleos e o clock fica quase na metade, em 1,4GHz. Batendo o olho nos números, a vitória do Z3 Compact devia ser certa, mas como o Optimus já diria, quando falamos de processadores, "há mais do que encontra os olhos".

A diferença que logo de cara se sobressai aqui é a arquitetura. O Snapdragon 801 segue a clássica arquitetura de 32-bit, enquanto o A8 do iPhone 6 já vem com os 64-bit introduzidos no iPhone 4. Sistemas de 32-bit conseguem processar até 4GB de memória, enquanto a nova arquitetura, de 64-bit, processa até 4 bilhões de vezes esse valor. À primeira vista, dá pra se imaginar um ganho de performance absurdo em relação às arquiteturas, mas não é bem assim. A performance extra que os 64-bit conseguem oferecer está atrelada à necessidade que o software vai demandar dela, ou seja, o ganho de performance é nivelado pela exigência de cada processo. Se um determinado aplicativo for devidamente processado pelos 32-bit, os 64 não farão tanta diferença. A tendência, obviamente, é que os programas exijam cada vez mais das arquiteturas dos processadores e a vantagem dos 64-bit em relação aos 32 só tende a aumentar.
A regra se repete para o G3 e para o Galaxy S5, que contam com exatamente o mesmo processador e, por isso, provavelmente não veriam diferença suficiente em suas performances para bater o iPhone 6 caso tivessem menor resolução. Mas e o Moto Maxx? O smartphone "vem monstro" da Motorola foi lançado equipado com um poderoso Snapdragon 805, o primeiro da Qualcomm a entrar para a arquitetura de 64-bit. Também com quatro núcleos e clockado em 2,7GHz, a performance do iPhone 6 deveria ser "fichinha" para ele.

Aqui há dois fatores que influenciam a apertadadíssima vitória do iPhone 6 sobre ele. A qualidade das telas é um deles: quando comparamos peças de hardware mais próximas fica bem mais determinante. Mas há também algo chamado "escalonamento de tarefas".

Como o professor Leandro Becker explica, o escalonamento de tarefas é exatamente o que muitos usuários já devem ter clicado neste artigo pensando: hardware desenvolvido especialmente para rodar um software pré-determinado vai entregar performances melhores. Quando os desenvolvedores da Apple trabalham numa nova versão do iOS ou dos processadores da "série A", eles fazem isso de maneira "fechada", sabendo precisamente as limitações e capacidades do hardware onde seu software vai rodar e vice-versa. O escalonamento de tarefas é o que distribui como cada tarefa vai ser executada, o quanto cada processo do software pode exigir do hardware e como é realizada essa exigência, a fim de entregar a melhor performance na usabilidade do dispositivo.
"É como mandar fazer um móvel sob medida ou comprá-lo pronto. Se você mandar fazer um especialmente pra você, ele vai encaixar perfeitamente no espaço que você reservou pra ele, mas sai mais caro. Se você comprar um pronto, ele pode não caber do jeito ideal, mas ainda realizar bem sua função, e sai mais barato."
O Snapdragon 805, apesar de já estar inserido na arquitetura mais moderna, precisa ser um processador compatível com vários tipos de smartphones, de várias fabricantes, e não só isso, mas também alterações relevantes (algumas delas bem severas) no próprio Android, como o TouchWiz da Samsung, por exemplo. O Moto Maxx ainda tem uma das versões mais puras do SO disponíveis no mercado, mas para segurar uma tela com tanta resolução e um escalonamento de tarefas bem menos otimizado, não teve como conseguir os pontinhos extras necessários para bater o iPhone 6 nos benchmarks.